Febre de subjetividade

Não dá pra escrever poemas 
sem que se tenha um toque de blues no coração. 
Um tanto de saudade, uma dose de ilusão 
que um dia se desfez no vento feito nuvem, 
mas que até hoje se deixa dedilhar numa canção...

Não dá pra escrever um poema 
sem que se tenha perdido algo de concreto na vida. 
Um ente querido, uma amizade antiga, 
um grande amor com o qual se teria construído uma família 
ou editado um livro...

Não dá pra escrever um poema 
sem febre de subjetividade até os ossos. 
Asas nos pés, estrelas nos olhos, 
uma lua refletida no espelho do mar 
cintilando conchas na areia, 
inspirando um cântico hipnótico de sereia...

Não dá pra escrever poemas 
sem aquela velha voz interior sempre lembrando 
que é possível ir além, sem medo de errar 
e com sensibilidade suficiente pra entender 
que o poeta não domina um poema, 
o poema é que o detém.

Ana Paula Coelho