Perspectiva

Foi revendo os espaços vazios que você deixou
que entendi minha necessidade de preenchimento:

A lâmpada no poste da esquina 
não ilumina a rua inteira por estar alta demais
mas o sol também está distante 
e até que seja vencido pela noite
abrasa a Terra

E a lua
não tão intensa quanto o sol
com sua luz suave, quase hesitante
arrebata almas e corações inspirados... 

Então não há quem possa ser mais 
quando a perspectiva depende das circunstâncias
do ponto de vista
da importância que damos.

Ana Paula B. Coelho

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A promessa

"Não compensa entrar na dança
depois que a música parou"

Humberto Gessinger



Por vezes escuto os sons que se calaram
O sim que virou lenda nos teus lábios
O suspiro sufocado sob o calor das nossas brasas

E a promessa

Desmaiada de teus braços frouxos
Caindo da cama
Oxidando no amargo do chão.

Ana Paula B. Coelho

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Saudade singular

trata-se de uma meia história
que de tão incompleta
deixou uma saudade singular

Ana Paula B. Coelho

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Explorer

diga-se de passagem
que minha maior viagem 
lhe coube num canto da boca

Ana Paula B. Coelho

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Pedido

Desejos pedem passagem
na névoa dos sentidos.

Ana Paula B. Coelho

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Língua universal

naquela boca o calmante
a destituir os medos
desconectando ansiedades
tempos ruins

sem verbos conjugados
apenas a língua universal
reativando a função dos poros
adormecidos vulcões

Ana Paula B. Coelho

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Os sulcos

Levantamos muros
E vivemos mudos
Em mundos distantes

O norte e o sul
O dia, a noite
O frio, o calor

E os sulcos

Que marcam nossos rostos
Nos envelhecendo
A cada silêncio mútuo.

Ana Paula B. Coelho

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Interface

Duas luas
Três estrelas:

Teus olhos
Nariz e orelhas

E no céu da tua boca
Meu universo particular.

Ana Paula B. Coelho

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Meias verdades

Eu pouco sei
De mim
De nós
Dos nós que desatamos

Eu pouco sei
Das meias
Das veias
Do sangue que não damos

Eu pouco sei
E sinto
Muito.

Ana Paula B. Coelho

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Tempo no espaço

Pintou de azul
o céu nublado
um sol nascente
tempo no espaço
daquele abraço
siderais desejos
beijos, afagos

e no discurso
choveu estrelas
luas, aromas
tudo misturado
silêncios, retinas
ares rarefeitos
pés entrelaçados.

Ana Paula B. Coelho

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Giro-caleidoscópio

No bar daquela esquina bebi minhas intenções
as ilusões que desenhei num giro-caleidoscópio
signo de câncer com capricórnio nunca deu tom

E quem disse que no céu estava escrito
entrelinhas entre nuvens ou em sânscrito
que ainda não acertei meu tempo de errar?

Como sorrir chorando a última ressaca
não enxergar uma placa de contramão
aterrissar um avião sem trem de pouso.

Ana Paula B. Coelho

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Sentidos

Procuro um baú para esconder as mágoas que ainda não curei. Não quero levar comigo, dia e noite, essa bagagem que me queima os ossos. Quero meus olhos na tarde morna e inofensivamente transitória. Sentidos que não me comprometam a essência. Que me atravessem o corpo de forma didática e não letal. 

Ana Paula B. Coelho

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Entregas essenciais

Ando preferindo entregar ao curso das horas
apenas os sentidos

Como se o espírito se rendesse à carne
não por encontrar-se fraco, mas por saber-se além
forte o suficiente para mergulhos profundos 
de emersões mais sábias

As entregas essenciais 
podem até parecer meio suicidas
mas são as mais extasiantes

A alma só se expande no risco do corpo.

Ana Paula B. Coelho

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Eterna inconstante

Tenho medo do que ainda virá aos meus olhos 
para fazê-los rios, lagos, oceanos...

Que permaneçam chuva - eterna inconstante
suave enquanto fina, necessária quando tempestade

Diferente dos rios 
que cursam apressados 
deixando memórias e saudades

Diferente dos lagos
tolos, perdidos nas horas 
indulgentes demais para nos afetar

Diferente também dos oceanos 
que profundos envolvem de forma prisioneira
levando-nos para nunca mais voltar.

Ana Paula B. Coelho

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É retrocesso

Jamais me senti assim antes
voltando atrás nas impressões...

Ele é anjo e demônio, abismo e paraíso
em seu olhar começa o sorriso 
que me desnorteia

que me parte ao meio o coração
que me faz dormir de olhos abertos
e acordar me arrastando para o mundo...

Sua ausência me levou os sentidos
mas o perfume, esse aprisionei na memória
e a história ainda queima escrita em gasolina na areia

e é retrocesso a minha vontade em desatino
é meu destino que incendeia.

Ana Paula B. Coelho

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Circuito fechado

Hoje prefiro circuito fechado
depois de redescobrir você
meu mundo tá apertado

busco sabores que me queimem as artérias
três taças de vinho tinto sufocado pela adega
só respira se o retiram da prateleira da estante.

Me sinto um palestrante desejando ser mudo
um fotógrafo famoso sonhando em ficar cego
maratonista azarado que agora é paraplégico

e não adianta mudar o rumo dos acontecimentos
não resolve fechar meus olhos sob a luz do sol
não vale a pena partir pensando em te ver.

Ana Paula B. Coelho

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Intensa agonia

A poesia não passa de intensa agonia que nos dá de repente
quando o velho grande amor não mais está perto da gente
somente a saudade, o papel e a caneta para nos dilacerar.

Ana Paula B. Coelho

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Áridos desencantos

Poesia é instante

Raro lugar comum
entre próximo e distante
entre claro e delirante
nem sempre um bom lugar pra se ficar...

Cabe ao poeta aproveitar
entrelinhas, entretantos
entre áridos desencantos
que sempre chegam para atormentar...

Ou salvar.

Ana Paula B. Coelho

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Reflexo

E nos olhos dos amigos
espelhos
traduzindo lembranças
histórias
de um passado colorido
reflexo
do que se traz no coração.

Ana Paula B. Coelho

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In pulso

Ainda escrevo por (in)pulso

Com sangue nos versos
circulando-me as veias
me mantendo viva

a inspiração
os movimentos
os verbos

que me contornam a boca
salivando rimas
amargas, doces

poemas.

Ana Paula B. Coelho

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Devoção

Inspirado na trilogia Cinquenta Tons De Cinza de E L James


Enquanto um fala
o outro cala em opção

no coração duas estradas
único atalho pra submissão

que só o amor permite
e os olhos consentem

em prol
em júbilo
em oração.

Ana Paula B. Coelho


Andorinhas

Como as folhas que se vão
Andorinhas
Traço mapas no coração
Estradas, entrelinhas

É assim que as coisas são:

Natureza
Miragens
Poemas na contramão.

Ana Paula B. Coelho

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Fruto do mar

Desperta as horas 
de sol
de sono
vertente em teus cabelos
rio torto
águas rasas

clichê

de livros
manhãs raiadas
um despontar de peixes
feixes de luz
sorriso de pérolas
fruto do mar.

Ana Paula B. Coelho

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Distâncias

Distanciando distâncias
distanciamento

distante o vento
e nos pés
estrelas do mar

o mundo 
girando imenso
instante
a me naufragar.

Ana Paula B. Coelho

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Universo de rimas

Morando na mesma lua
um código, um verbo
- universo de rimas

e nos olhos da menina
discos antigos, cinema
a ponta de um girassol.

Ana Paula B. Coelho

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Fumaça

Talvez paixão seja só isso
tragar profundamente sensações aladas
como fazemos com os cigarros:

Fogo pra acender 
breve alívio 
e fumaça.

Ana Paula B. Coelho

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Escamada em matizes

De tempos em tempos 
no corpo 
um desassossego

que não é falta de sexo
tampouco de descanso
pois já durmo demais...

De tempos em tempos 
aos olhos 
uma luz por trás

que não é princípio de cegueira
tampouco anjo fugido dos céus
talvez um poema que ainda não sei

De tempos em tempos naveguei

Por vezes sozinha
escamada em matizes
num súbito desprendimento

sem dia dos namorados
sem desencanto marcado
sem tédio, sem lei.

Ana Paula B. Coelho

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Fatalidade

Por acidente
teus olhos nos meus
de repente.

Ana Paula B. Coelho

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A nota

Ele não se prende a letra
aos versos da canção
somente lhe importa o tom
a nota que dispara o coração

Ele tem um ritmo lento
um estranho jeito de ser
um não sei quê de indescritível 
terrível não saber o que lhe dá prazer... 

Mas eu ainda o sinto no súbito que transbordou
no que me envolveu feito luar em noite escura
feito onda escorregando por areias quentes
eu o absorvi... irremediavelmente.

Ana Paula B. Coelho

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Contaminada

O mundo inteiro é um saco de merdas se rasgando. Não posso salvá-lo. Sei que nos movemos em direção à miragem, nossas vidas são desperdiçadas, como as de todo mundo. Eu sei que nove décimos de mim já morreram, mas eu guardo o décimo restante como uma arma.

Charles Bukowski


Ponho café na xícara
acendo meu cigarro
e abro o bloco de notas do computador
pra tentar escrever inutensílios
como já dizia Leminski

sou assim misturada de Agora
Cuba Libre de 70, 80 e 90
entre atual e ultrapassada
nesse instante que ninguém mais usa um notebook
e os smartphones comicham as mãos do mundo
ou será que já existe algo mais moderno
e eu tô aqui de burra e palhaça?

não sei

estou cada dia mais velha
com dores estranhas na coluna
com café me amarelando os dentes
cigarro me deixando o pulmão mais sujo
e o pior: 
a nicotina fodendo meus neurônios
quando escrever ainda é um prazer 
além de comer, dormir e acordar 
pra pensar em escrever, comer, dormir
e acordar outra vez 

o mundo moderno tá me deixando tão out
o cigarro tão velha e demorada
e meu novo marido tá me pesando nos ombros
não por ser uma pessoa ruim, mas por ser marido
e os maridos consomem ossos e alma

então voltando
eu acordo e tem uma tecnologia nova 
em cada bar e boca de esquina, em cada propaganda
e penso se ainda escrevem poemas no papel?

eu teclo!

teclo, teclo
tico e teco movendo parafusos soltos
perdidos, livres pra pensar besteiras
e penso no café ao lado, no cigarro
penso em falar mal das pessoas
(isso só me acomete quando estou sozinha)
no social até posso ser um tanto debochada
mas geralmente tento ser gentil

"um tanto debochada" me fez lembrar dos esnobes
de repente me deu vontade de falar mal dos esnobes
como se fossem importantes, mas não são
são merdas que fedem igual a tantas outras merdas
mas a merda esnobe me irrita mais
pode estar disfarçada de amigo 
ou de parente

tem aquele que só te convida aos eventos
pra te mostrar a casa enorme, o emprego
o casamento, o carro novo
as fotos da última viagem de férias
a vida bem sucedida que nada tem a ver com a pobreza
financeira e moral que o indivíduo vivia antes
tendo vergonha dos pais, do bairro de origem
dos amigos de escola, da própria aparência
e até do ínfimo desejo...

porra! eu estou bem no meu fracasso, obrigada
não lutei por ele, mas o aceitei de bom grado
sendo assim não preciso competir
não preciso magoar ninguém
nem ser dissimulada, esnobe
ou filha da puta!

então sugiro mandar para o inferno
os amigos, parentes, karmas
 que se você é feliz 
não sendo falso, mentiroso
ladrão ou invejoso 
lhes causa um desconforto insuportável...

talvez esse seja o grande segredo para espantá-los:

ser feliz
sem medo de ser julgado
e desfrutar da tranquilidade de não ser incomodado 
por telefone, interfone ou internet
durante um bom tempo...

me sentei aqui para escrever um poema
estilo Bukowski
e talvez contaminada
me saiu esse esgoto todo

e eu nem mesmo estou bêbada...

só café e o maldito velho cigarro.

Ana Paula B. Coelho


Contradição

Um instante é dúvida
poema que dormiu na gaveta

E alguns lábios silenciosos
só são sensuais quando se preocupam

Pois que a vida é essa contradição
é abrir mão daquilo que sempre nos procura.

Ana Paula B. Coelho

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Senryu 2

Um terço de rima
amém ao poema
que se ilumina.

Ana Paula B. Coelho

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Calma e inútil

De não me interessar por nada
além do meu próprio prazer
que não é nobre 
nem intelectual
me afirmo calma e inútil
feito um bebê 

Que sorri no colo da mãe
que dorme sem culpa 
depois da fralda trocada
da fome saciada 
na transição das horas 
sempre absolutas.

Ana Paula B. Coelho

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Porque o instante existe...

Quando vejo postagens no meu Facebook avisando sobre algum sarau poético no Rio, eu me excito silenciosamente e aquela velha vontade de comparecer a algum desses eventos me come por dentro. Tudo porque, embora eu morra de vontade de expor meus poemas em público, sempre me bate aquele medo, aquela dúvida que logo se transforma na seguinte pergunta: "mas você é de fato poeta?". Bem, escrevo meus rabiscos desde que eu era adolescente e embora acorde no meio da madrugada quase todos os dias, apenas para escrever "poemas" doidos que não me deixam dormir, eu penso que posso não ser poeta ainda. Mas e se eu for? Penso se Cecília, Florbela ou Leminski se perguntavam a mesma coisa e eu acho que sim. Além da pergunta, na cabeça deles passou também as seguintes inspirações:

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Cecília Meireles


Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior 
Do que os homens! Morder como quem beija! 
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! 


Florbela Espanca
                                                                                                                                             
inverno
primavera
poeta é 
quem se considera

Paulo Leminski

Então, pode ser que eu seja mesmo poeta e talvez um dia eu compareça a um desses saraus de poesia para finalmente falar do que escrevo.

Ana Paula B. Coelho

Milagres de universo

"Porque sempre que abro meus olhos e te vejo ao meu lado, tenho a certeza da escolha... A certeza de que um simples momento pode ser o começo de tantos outros perfeitos..."


Entra em mim 
e me abre o coração com teus caminhos de ouro
pois preciso ser amiga da felicidade...

Preciso que minha intenção conheça o que é bondade
já tão rara na maioria das pessoas 
mas tão presente e radiante 
na simplicidade dos teus gestos...

Me toca 
e reacende ao teu calor meus planos de pele 
de forma comovente, tão convincente 
que eu acredite ser o meu desejo 
merecedor da tua ferocidade de pétala...

Me olhe nos olhos e me mostre o valor das manhãs
como se tua pupila fosse o único sol que eu pudesse alcançar
ainda na condição humana - cheia de defeitos e pecados... 

Que meu amor seja recompensado por querer-te tanto!

Dê-me atenção - teu pão como alimento ao corpo
a alma, a ilusão que sustenta cotidianos movimentos
que desvenda segredos e opera milagres de universo.

Ana Paula B. Coelho

Portos reversos

Vestiu-se de mar e navegou seus barcos de papel 
num rumo secreto de poemas 

ao sabor dos ventos foi deusa etérea 
e soprou novo destino aos velhos sonhos

dos cabelos voaram-lhe rimas 
a impulsionar velas condutoras

dos olhos a luz de um intenso farol 
sinalizou portos reversos.

Ana Paula B. Coelho

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Horas de ressaca

Me toque com notas perfeitas
que danço em ritmo de chuva

Lá fora os beijos de fumaça
esboçam amores perecíveis

E nos pulsos: horas de ressaca
o tempo a desmarcar ponteiros...

Somos conto de noventa páginas
ou romance eterno em trilogia?

Ana Paula B. Coelho

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Desafeto

E entre os dedos do poeta 
ainda morava de aluguel
aquela velha tristeza 
chamada Desafeto.

Ana Paula B. Coelho

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O quarto menor

No teto
rachaduras desoladas
mudas
dos reveses diários
do espaço restrito

É um quarto de ar denso
de tons amarelados
pelo tempo e nicotina
mas o aroma que predomina
me invade de saudades

A cama tão sozinha
a porta escancarada
os segredos desvendados
e o que foi herdado
com o futuro não combina.

Ana Paula B. Coelho

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Olhos injetados

Projeções românticas
desesperam o contraditório 
e desvendam segredos no infinito...

São olhos injetados no que vai por dentro.

Ana Paula B. Coelho

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Licor de anis

Me atrase os dias de silêncio infértil
aqueles cuja madrugada oculta sobrenomes
e o vento não sopra lá muitas resenhas...

Me tire dos olhos os brilhos perecíveis
aqueles cuja euforia só desenha um arco-íris
depois que o sol dissolve as nuvens mais densas...

Me desfaço feito açúcar dentro do copo
tiro-me do foco das grandes expectativas juvenis
sobrevivo transmutado de café a licor de anis 
cerne degustado nas bocas súmulas depois do jantar.

Ana Paula B. Coelho

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Poeta é pipa solta...

"A noite esqueceu um carinho em você
Hoje está fazendo uma saudade linda
E um floco de verso pulou de mim quando deitei
Lá no fundo ainda estou raso
Um gole de beijo
Gosto do gosto lembrando na boca
Onde você não está as palavras te acham"

(Do filme: Pequeno Dicionário Amoroso 2)


Confesso que ser fã de carteirinha da atriz Andréa Beltrão foi o que me levou a assistir Pequeno Dicionário Amoroso 2. Mas jamais imaginei que uma das cenas do filme fosse me agraciar com poesia declamada... E que felicidade conhecer esse delicioso poema de Dado Amaral:


poeta é o cara que se esmera a vida inteira
em malabares de palavras
e num instante tonto
uma frase solta ao avesso
vira verso e no acaso por acaso ecoa
                    a melodia rara de cantiga boa                  
ser poeta é jamais perder o estado de perplexidade
com o mundo com a gente
é nunca esquecer o susto do suspiro alheio          
suspiros poéticos e saudades
espumas flutuantes
estrela da vida inteira
claro enigma:
poeta é pipa solta em dia de ventania

Dado Amaral

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Cena de retina


olhos se inundam 
se ressecam
pelo vício
pelo indício 
de ser ou não por amor

Ana Paula B. Coelho

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Cavalo de aço

Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. 
E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. 
Assim como tu és o meu.

Clarice Lispector


Nos braços da satisfação, me enlaço
me solto (cabelos ao vento) e parto 
num cavalo de aço...

Meu sonho - sorte ou desventura
meu sopro no espaço.

Ana Paula B. Coelho

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Convulsão implícita

"Onde meus versos dormem
só você pode deitar"

Wesley Mozer


O calor da tua mão:
refrão de "Je Vais T'Aimer"
revirando-me as vísceras...

Uma dor - convulsão implícita
a subverter minha pele
mapeando torturas...

Meu desejo de corpo 
e de alma.

Ana Paula B. Coelho

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Música de bar

Uma palavra que caiba na boca
no ônibus lotado ao passar

um adeus que retorne dos olhos
dos pés já querendo voltar

(e um verso é música de bar)

é a espera da mesa do canto
um copo vazio a quebrar.

Ana Paula B. Coelho

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Força instigante

Que o amor em mim seja mais que uma força instigante... 
Que me roube dos olhos orações ao invés de apenas lágrimas. 
Que não me abra sentenças no coração apesar de alguma culpa. 
Que seja um tesouro inexplorado e um barco à espera de viajantes.

Ana Paula B. Coelho

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Até sua chegada

Estrangeiras
Repentinas
Impulsivas
Vinham as palavras

Juntas
Me pareciam poesia
Até sua chegada

Ultimamente as venho esquecendo
Me perdendo em seus abraços.

Ana Paula B. Coelho

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Desatino

Não chore uma rosa por seu caule
chora quem a roubou num desatino
deixando em sangue seus espinhos.

Ana Paula B. Coelho

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