Uma espera

um poema pra você

meu presente
um encontro no inverno
um café
sem cigarro
um diálogo que vale mil livros
um abismo ultrapassado

nossos olhos
uma constelação
uma lua
meu deserto
um hemisfério inquieto
um sorriso

minha dança
uma segunda intenção
uma espera
nossos corpos
um outono 
um veículo na contramão

Ana Paula B. Coelho

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As coisas

Tanta gente querendo ser especial pra alguém
e você se deixando morrer pra mim

foi a pior extravagância dissolver uma aliança
forjada na mais contente sorte do destino

tantos olhos abertos sem enxergar um passo a frente
enquanto cegos andávamos sobre as águas
pulávamos abismos
voávamos com nossas asas de algodão

foi o maior desperdício predispor mil beijos
que não foram dados sob a luz do luar...

mas as coisas são como devem ser
e não acontecem sozinhas

saem das cartas de tarô
dos búzios
das velas acesas em oração
dos primeiros ventos que anunciam tempestade

saem da intuição
dos versos de um poema
da vastidão que se transforma
e jamais será desmaterializada.

Ana Paula B. Coelho

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Consumo das horas

Inspirado no filme Grandes Esperanças com Ethan Hawke e Gwyneth Paltrow...


na moeda
de um giro
eu viro esse tempo

cara 
coroa
não existe momento
que o acaso não tenha jogado

um beijo
uma dança
a rima de um poema
um esquema 
que atravesse o mesmo caminho

e os dias se passam
consumo das horas
ponteiros
lembranças
os meus e os teus erros

as palavras se dobram
como os galhos das árvores
ao vento
e eu vejo outro outono chegar

Ana Paula B. Coelho

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Nuances do azul

Do mar
quis a areia
as conchas
cavalos marinhos

quis o sal
as ondas
os diversos perigos 
nuances do azul

quis nadar
mergulhar
e morrer.

Ana Paula B. Coelho

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De cima do muro

fala de lua
de estrelas
de universos paralelos

fala de música
e rima
poemas e filosofia

fala de cima do muro
e do mundo
esquece os problemas

Ana Paula B. Coelho

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Sem demora

Se passa em países
cidades
bairros
mas não se sente

Acomoda-se em quartos
camas
abraços
mas não se demora...

Ele viaja sempre.

Ana Paula B. Coelho

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Pouco se tem

Muito se espera
da noite
das tardes
dos versos de um poema

E pouco se tem
da boca
dos olhos
da promessa de um novo alguém

Ana Paula B. Coelho

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A lua

Num canto do céu
tudo que precisamos
o tanto que lamentamos
e sempre nos esquecemos:

a lua

e das estrelas nos perdoamos.

Ana Paula B. Coelho

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Parado no exato

passado o exato momento
foi preciso um futuro
de diálogos férteis
que não dão flores
nem frutos

e por mais que se tente abraçar
a palavra secreta que escapa
o sorriso de letra de música
o passado ainda está lá

parado no exato
momento presente
chamado futuro

Ana Paula B. Coelho

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Versos que lamentam

são apenas dias 
secretas horas infinitas 
onde os ponteiros tropeçam
caem 
e se levantam

amanhã volta pra casa
sem saber se a noite dormiu bem
se o livro virou a página
se outra boca já beijou
sujando a roupa de batom

seria bom se surgisse outra viagem

a distância é sempre um novo poema
de versos que lamentam
que dobram esquinas
cobertas
que fecham os olhos para atravessar a rua

Ana Paula B. Coelho

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Uma só canção

tão sozinha quanto eu 
uma canção que dorme
acorda
que se esquece do tempo que a consome
que aprisiona
liberta 
ascende

uma só canção

sem letra
preenchendo espaços
vazios sem cor
outonos eternos
invernos
tardes
que fazem dançar os mortos

Ana Paula B. Coelho

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