Horas de ressaca

Me toque com notas perfeitas
que danço em ritmo de chuva

Lá fora os beijos de fumaça
esboçam amores perecíveis

E nos pulsos: horas de ressaca
o tempo a desmarcar ponteiros...

Somos conto de noventa páginas
ou romance eterno em trilogia?

Ana Paula B. Coelho

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Desafeto

E entre os dedos do poeta 
ainda morava de aluguel
aquela velha tristeza 
chamada Desafeto.

Ana Paula B. Coelho

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O quarto menor

No teto
rachaduras desoladas
mudas
dos reveses diários
do espaço restrito

É um quarto de ar denso
de tons amarelados
pelo tempo e nicotina
mas o aroma que predomina
me invade de saudades

A cama tão sozinha
a porta escancarada
os segredos desvendados
e o que foi herdado
com o futuro não combina.

Ana Paula B. Coelho

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Olhos injetados

Projeções românticas
desesperam o contraditório 
e desvendam segredos no infinito...

São olhos injetados no que vai por dentro.

Ana Paula B. Coelho

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Licor de anis

Me atrase os dias de silêncio infértil
aqueles cuja madrugada oculta sobrenomes
e o vento não sopra lá muitas resenhas...

Me tire dos olhos os brilhos perecíveis
aqueles cuja euforia só desenha um arco-íris
depois que o sol dissolve as nuvens mais densas...

Me desfaço feito açúcar dentro do copo
tiro-me do foco das grandes expectativas juvenis
sobrevivo transmutado de café a licor de anis 
cerne degustado nas bocas súmulas depois do jantar.

Ana Paula B. Coelho

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Poeta é pipa solta...

"A noite esqueceu um carinho em você
Hoje está fazendo uma saudade linda
E um floco de verso pulou de mim quando deitei
Lá no fundo ainda estou raso
Um gole de beijo
Gosto do gosto lembrando na boca
Onde você não está as palavras te acham"

(Do filme: Pequeno Dicionário Amoroso 2)


Confesso que ser fã de carteirinha da atriz Andréa Beltrão foi o que me levou a assistir Pequeno Dicionário Amoroso 2. Mas jamais imaginei que uma das cenas do filme fosse me agraciar com poesia declamada... E que felicidade conhecer esse delicioso poema de Dado Amaral:


poeta é o cara que se esmera a vida inteira
em malabares de palavras
e num instante tonto
uma frase solta ao avesso
vira verso e no acaso por acaso ecoa
                    a melodia rara de cantiga boa                  
ser poeta é jamais perder o estado de perplexidade
com o mundo com a gente
é nunca esquecer o susto do suspiro alheio          
suspiros poéticos e saudades
espumas flutuantes
estrela da vida inteira
claro enigma:
poeta é pipa solta em dia de ventania

Dado Amaral

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Cena de retina


olhos se inundam 
se ressecam
pelo vício
pelo indício 
de ser ou não por amor

Ana Paula B. Coelho

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