Cortina cristal

Que a saudade me detone os monstros
estilhaçando-lhes os ossos
até chegar ao pó das lembranças
poeira purpurina sobre os vultos
cortina cristal
mágico portal dimensional
atravessando-me as horas

Das janelas abertas
vejo a noite delirante
e o frio beija a chuva
para que não apague o fogo
- esse incêndio de memórias
das velas perfumadas no quarto
(minha maneira de te ter por perto)

E enquanto lá fora é só deserto
em meu peito abro estradas
mapa de cidades perdidas
casas construídas sob pálpebras
pupilas como antenas de TV
captam o que o coração quer ver
ainda que a névoa da realidade
amanheça-me de volta ao caos.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)