O poema apaixonado

Verbos frios que hoje me roubam o céu
com penumbra felicidade minguante
em desolada alma e congelada carne
homogêneo enredo, nervo retesado
ansiedade sem portas pra sumir...

Mais corajoso me estampar toda a vergonha
em outdoors por tuas ruas estreitas de mim
onde cinzas calçadas cimentam chacotas
criptografias, mágica cartola: coração
que antes escrevia em flor pra ti...

E se ainda restam árvores no paraíso dos parques
onde o vento brincou de espalhar folha-miragem
nenhum etílico sopro chega tão forte a consumir
tanto quanto a humilhação de outra vez pedir
e ainda assim ter meu pedido ignorado...

Mas não será em palco de Circo Voador ou teatro
que haverão de ler-me um verso bobo, ajoelhado
sob holofote alvo-luz num soneto Lapa Insônia
o poema apaixonado que bêbado rendeu-se
à intenção de Vinícius - última chama!

Ana Paula B. Coelho

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