Lugar de origem

Outra vez meu tempo
traça um rumo de palavras
que quando chegam
não se alinham numa rima

deixei tudo esquecido numa esquina
as horas, as vontades crescentes
os teus olhos ainda ausentes
alheios ao lugar de origem

penso em teus olhos
em teu olhar sem porto
teu coração sem repouso
sem sossego pra ficar

teu relógio arrasta precisos ponteiros
o meu é rústico feito um realejo
desce, sobe, gira a manivela 
não escolhe a música que vai tocar...

eu lamento as diferenças que nos distanciam
o receio que gela tuas mãos sombrias
teu descaso de conversas
tuas entrelinhas.

Ana Paula B. Coelho

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Nuvens

existe um caminho secreto
para o encontro de nossos olhos
de nossos lábios que já se tocaram
e deixaram desejos profundos de coração

existe um atalho esquecido
à margem das estradas sem sonhos
com uma corda meio bamba
onde sempre precisamos nos equilibrar
desafiando contrárias energias
desencantos alheios a nos espreitar

existe ainda um meio termo 
do qual já nos utilizamos
uma desculpa estreita e encoberta
por nuvens de um futuro que nunca habitamos

existe aquela velha esperança 
perdida na página central de um livro antigo
e essa é a parte que devemos descobrir
se é o mesmo ponto afinal ou novo ponto de partida

Ana Paula B. Coelho

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Ainda frágil

Outra vez aquele esclarecimento inconveniente
e a roda a girar
repetindo os mesmos pontos de partida
o mesmo terminar

em nuances
muda-se a rota, a paisagem
e persigo as mesmas folhas caídas das árvores
norteando labirintos

me alimento das mesmas tardes
sublimes e de segredos dourados
da mesma noite
eterna de sombras de lua

em beijos de vento
ganho rápido as alturas
devoro espaços
transmuto infinitos

e apesar do tanto de passado já vivido
ainda frágil
permaneço presa ao azul desse planeta

meus acertos sobrevivem
demarcam na órbita as horas em que me perco
do meu rosto acrílico
de seu fatal desbotar.

Ana Paula B. Coelho

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