Bistrô desilusão

          Ele sentou-se à mesa do bistrô, com todos os cansaços possíveis aos olhos e ao coração. E foi deixando o corpo se ajustar, ou melhor, se desajustar na cadeira diante de mim. Logo pediu vinho tinto ao garçom, em vez da habitual cerveja e esboçando um sorriso de lua minguante, meio que me sussurrou insatisfeito:
           Antes de morrer ainda estudo astronomia... Ou psicologia...
          – Sei. Como aqueles outros cursos que abandonou sem remorso...
           Talvez eu devesse nessa merda de vida, surfar entre as estrelas. Ou meter meu cérebro num saco preto cheio de gatos para finalmente me reconhecer como psicopata... O que acha disso?
           Mas você já é poeta  Argumentei, alguns segundos antes do garçom trazer o vinho que bebemos, num cúmplice silêncio, até a metade mais carente daquela longa madrugada.

Ana Paula B. Coelho