Sem compreender

Não queria falar de suas dores
- não naquela noite
com vinho na taça, chuva 
e frio fora da varanda

só queria sentir o ar gelado, em sintonia
na mesma temperatura do seu coração

queria uma fonte, um barco, um abrigo
um rio que não desaguasse na desilusão

então só pensava em escrever
de forma livre, sem compreender
a rima nos versos, o ritmo nos dedos
a poesia em suas controvérsias.

Ana Paula B. Coelho

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Um minuto

Num minuto ele cruzou seu olhar com o meu.
Num minuto, antes de sair do carro, ele beijou minha mão.
Num minuto, depois de tomarmos banho juntos, ele me chamou de anjo...

Jamais desejei tanto o retorno de um minuto!

Ana Paula B. Coelho

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Surto desnecessário

     Eu só queria te dizer que não foi nada pessoal contra você, pelo contrário, foi contra mim. Não sou mais o tipo de pessoa que se abre ou que se comove com a poeira da expectativa. Não sou mais tão otimista como eu era antes. Já ergui meus muros, fechei minhas portas e janelas. Agora nem sinto mais a fria atmosfera do inverno roubando a esperança das plantas na varanda. Hoje estou tão distante de mim que seria mesmo impossível estar próxima de outra pessoa. Então me perdoe o surto desnecessário. Eu te prometo não mais me deixar envolver com episódios do passado, com as lembranças que agora se manterão somente nas mesas onde se embriagam as cervejas e as fragmentadas conversas, antes da noite terminar.

Ana Paula B. Coelho


Essencial alegria

Algumas relações são 
essencial alegria, outras
desnecessária alegoria.

Ana Paula B. Coelho

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Lado obscuro

"Um quarto que parece um devaneio, um quarto verdadeiramente espiritual, cuja atmosfera estagnante é levemente tingida de rosa e de azul. A alma toma um banho de preguiça aromatizado pela saudade e pelo desejo. É algo crepuscular, azulado e rosado, um sonho voluptuoso durante um eclipse..." Charles Baudelaire


Em seus olhos vejo as grades da minha prisão
estranha obsessão que me consome de luar
me desalinhando o futuro - lado obscuro
céu sobre as sentenças do verbo amar.

Ana Paula B. Coelho

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Sangrando

Já não sei mais em qual gaveta
deixei meu coração pulsando
sangrando a nova confusão.

Ana Paula B. Coelho

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Mar inconveniente

E o passado é um mar tão inconveniente
que sempre nos incomoda o presente
com suas ressacas de recordação.

Ana Paula B. Coelho

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Com o tempo

E de perder constantemente
com o tempo a gente entende
que a paixão é uma serpente
- só existe para envenenar...
Então escrevemos um poema.

Ana Paula B. Coelho

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Poema a recomeçar

"...Mas depois de escrever pra ele o que sentia, encheu-se de inédito otimismo e enxergou um sol na escuridão de seu próprio abismo. Não teve mais medo das sombras que a dúvida projetava. Simplesmente abriu os braços para a inspiração que chegava sorrindo, colorindo a foto dele que salvara..." Ana Paula B. Coelho (Sintomas de esperança e nostalgia)

De novo vejo o mesmo horizonte
que antes parecia tão distante
pra que eu pudesse alcançar

Não se pode medir o tempo passando
por meses e anos até se completar
vários ciclos, variados ritmos
num poema a recomeçar

Já penso que não existe o acaso
o que existe é o nosso descaso
pelos caminhos do destino...

"E se sigo uma trilha previamente traçada
dificilmente vou me perder no labirinto"

Que meu percurso seja leve
que seja breve a espera 
e certo o consumar.

Ana Paula B. Coelho

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Tempos difíceis

São tempos difíceis 
pra quem se entrega
espera o que não virá
com sorrisos e sonhos
impossíveis

São tempos difíceis
pra quem vê estrelas
no chão, nas calçadas
relento folhas sopradas
ao vento

São tempos difíceis
pra quem tem paixão
caneta e papel na mão
pra expressar o indizível.

Ana Paula B. Coelho

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Olhares e sinceridades

"...Fora da trama, mas ainda dentro do mesmo quadrado, abriu a janela e acendeu um cigarro. Precisava suspirar num disfarce de fumaça - dispersar aromas antes trocados. Alguns cheiros são abismos da memória! Então não queria guardá-los. Só queria camuflá-los com nicotina. Foi o modo urgente que encontrou de ficar o mais longe possível de outra desilusão..." Ana Paula B. Coelho (Sintomas de defesa)

De mim não espere o verbo
apesar do clima de magia
da sintonia que se fez...

Não espere um poema
versando dois corpos
- sentenças proferidas 
depois do prazer...

Te prometo olhares e sinceridades
silêncio criptografado numa rima
um suspiro que fiz por merecer 
e alguns sorrisos de vento.

Ana Paula B. Coelho

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