Apelo-serenata

Serei rio constante se atirando ao mar
serei o amar nos versos de poetas antigos
serei uma constelação de queixas no infinito
mas também serei a árvore que abraça o vento

Serei o tempo consumindo segredos escondidos
aqueles que amarelam nas fotos e no coração
mas que jamais perecem, jamais traduzem
jamais se libertam de seus simbolismos...

Eu serei um pensamento que se eterniza conciso
num refrão de música, numa rima, num beijo
nas viagens de avião - nas asas das libélulas
frágeis, mas envolventes como o teu sorriso

Serei o prévio aviso dado aos navegantes
sobre tempestades - tormentas cortantes
também serei alento aos abissais dissabores
serei as orações nos lábios dos que acreditam

Serei o que posso ser, o que poderia ter sido
acaso o destino nos fizesse um ao invés de dois 
serei o que vem depois da longa e fria madrugada
apelo-serenata: véu sobre a intensidade dos epílogos.

Ana Paula B. Coelho 

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Assim mesmo

Não são espelhos teus olhos
neles me olho e não me vejo
assim mesmo nas retinas
ficarão meus gestos
meus esforços:

uma rima que não rimou
um acorde que não cifrou
meu EU desperdiçado.

Ana Paula B. Coelho

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Só o amor

E nas tuas faltas 
serei presença
serei demência
em meu deixar pra lá...

Que só o amor 
tem esse quê de deixa disso
esse algo mais de que preciso
pra te perdoar.

Ana Paula B. Coelho

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Um presente

No fim percebo
são minhas intuições que erram por mim
esboçam meus sorrisos em manhãs nubladas
em calçadas quebradas pela persistência da chuva

No fim entendo
tuas prisões não são imaginárias
e eu não posso tratá-las com desprezo
quando cada detalhe teu é como um presente:

Um livro envolvente, o filme do momento
a música que ensurdece as paredes do meu quarto
meu lado mais ardente - esse hábito que tenho 
de te desconcertar com os versos dos meus poemas.

Ana Paula B. Coelho

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Longe das janelas

Eu queria manter meus pensamentos longe das janelas
para que não se animassem nem com o dia nem com a noite
para que não criassem esperanças nem asas para voar mais longe...
Pensamentos são perigosos quando nos fazem arriscar sonhos distantes.

Ana Paula B. Coelho

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Prazer

Um verso só se faz prazer nas próprias asas
se de fato o coração do poeta pretende voar.

Ana Paula B. Coelho

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Medo

Temer o dia

como a noite teme
a perda das estrelas visíveis
para o luar, para as displicentes nuvens...

tenho medo de perdê-lo para o caminho
que é árduo, intrépido, curvilíneo
repleto de desconsiderações

como retê-lo?

Ana Paula B. Coelho

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Chuva-sol

Somos feitos de chão molhado
chuva-sol, tardes de céu nublado
flores da estação e ventos fortes...

Somos templo de lamentos
felicidades, sonhos, tormentos
temos como sacramento a palavra

Somos de circo, poetas mendigos
músicos, dançarinos - bêbados 
conscientemente aterradores

Somos gente entre lua e estrelas
entre climas e metamorfoses
somos gnose e displicência.

Ana Paula B. Coelho

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A entrega

Não foi o terceiro encontro que esperava
não foi a pausa adequada ao surpreendente
não foi nem de longe a estrada mais viável
mas foi incomparável a entrega...

Ela se entregou ao Mar
como o vento ao destino incerto
como a paixão ao acerto de peles.

Ana Paula B. Coelho

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