Tempo de um poema

Se concebível
é imensurável o tempo de um poema. 
A poesia é feito árvore 
cuja história respira impregnada de versos por suas folhas
mas qual poeta ousa aferir essa retórica? 
O vento destina a trajetória em quatro estações 
- mesmo resistente à intempérie
o seu decurso pode ser longo ou curto
árduo ou pleno de líricos atributos
perfumado de flores ou de fungos.

Ana Paula B. Coelho

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Feita de silêncios

Melhor que eu seja feita de silêncios...
Que meus sentimentos se guardem quietos
na alma, no corpo ou numa taça de vinho tinto
sem que a cor de sangue seja espírito às palavras.

Ana Paula B. Coelho

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Metal aquecido

O poeta jamais se desperdiça em poemas
quando cada verso é parte de seu expandir
um metal aquecido a resistir às intempéries.

Ana Paula B. Coelho

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Alguns acasos

Alguns acasos casam bem com insatisfação
promovem mudanças repentinas - climas
foi assim que adquiri certas ansiedades
que só encontram saciedade em você.

Talvez eu tenha sobrevivido até agora
de olhos abertos e pés cravados ao chão
isso não foi bom - dada a liberdade do agora
onde alço voos mais cegos, ousados, irresistíveis.

Ana Paula B. Coelho

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Tênue

É tênue, a linha que me separa da realidade
me confronte com a verdade e eu retorno
eu me perco novamente entre meu vale
de solidão predestinada e de relento
de um pseudônimo-complemento
do que já fui, sou e ainda serei.

Ana Paula B. Coelho

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Poema de amor

Ainda vou te escrever
um poema de amor.
Uma música-momento
meu sentimento em flor
a perfumar teu jardim
a desenhar outro fim
para um doce começo...
Novo caminho, novo porto
bossa nova - barco-conforto
aos meus desejos de sonho
de carinhos e beijos teus.

Ana Paula B. Coelho

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Devo ser

Devo ser para ele
como a poesia é pra mim
circunflexa circunstância
concavo-desconexa
do correto inviável
- afável indiscreto.

Ana Paula B. Coelho

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Jeito lento

Gosto do jeito lento
como agora as coisas caminham
é quase um arrastar de pernas
de passos tropeçados nos próprios sapatos
o que redobra minha atenção
sem deixar de ser trilha divertida

logo eu que seguia tão sozinha e retraída
em velhas canções, pétalas secas dentro de um livro
dentro de um infinito de saudades e observações...

hoje em meu rosto
um reticente sorriso faz-se aberto
faz-se brilho de estrelas e luar - desfaz abismos
pra fugir das sombras e trazer lirismo
aos meus dias, entre meus dedos, à superfície
do meu romântico e desajeitado coração.

Ana Paula B. Coelho

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No meio

Tanta gente esquisita ao meu redor
e no meio eu me acho a mais esquisita
talvez porque minha febre seja um livro 
de páginas viradas e minhas pálpebras
asas de pombo em voo baixo
um panorama rasteiro
mas verdadeiro demais pra ser errado
porque eu não ando calçando outros sapatos
que não são meus, são só emprestados
e não sou de cuspir no prato em que como
eu não tenho esse hábito
e não vivo de espelhos - não foi esse o trato
o combinado foi vir quase ao acaso
pra testar meus limites, meu descaso
por tudo que ao todo parece suportável.

Ana Paula B. Coelho

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Doce manhã

Ah! Que gloriosa e especial manhã que jamais tive antes 
de conhecer o paraíso - eu que não acreditava nele 
e que até cruzar suas portas, era apenas como um andarilho 
sem canto, sem cor, sem rumo ou destino... Sem perspectiva. 
E nenhum sonho pode ser mais forte que o sol desta manhã, 
que enfrenta nuvens cinzas se fazendo prevalecer em meio a obstáculos, 
controvérsias e cicatrizes... Fonte de felicidade! 
Porque é meu coração ainda aquecido e minh'alma desperta 
que me contam a novidade, a verdade dos meus sentimentos 
que embora eu precise esconder, não me farão lamentar... 
Ah! Que eterna manhã de lembranças perfeitas e abençoadas, 
de doce morada em meu peito - ninho de pássaros, 
olhos fechados, sorrisos alados e aconchego... 
Manhã de cheiros fixados em minha pele, 
em meu lençol - um paiol pronto a incendiar novamente, 
mesmo que o fogo agora esteja longe... Adormecido.

Ana Paula B. Coelho

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