Impulso

Se a noite é feita desse meu pranto de insatisfação
desse desacerto, dessa derrota, dessa contramão
que o céu inteiro seja impulso ao meu raro sorriso
que a lua seja brilho aos meus olhos e as estrelas... 
Ah! As estrelas... Que elas sejam minhas esperanças
meus versos de infinito que o relento há de eternizar.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Isolamento

Na minha boca resiste um veneno
em meus olhos uma sombra
na minha pele um desejo pleno
de errar romanticamente...

Me divido em momentos
percorro sentimentos instáveis 
ao meu destino - isolamento
que é tempero às palavras viáveis
que é dor de arrebatamento.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Excitante segredo

Nada é mais afrodisíaco que minha inquietude
minhas tantas horas de saudade das poucas horas
meu questionamento das tuas verdades pela metade
e minha aceitação das tuas mentiras perfeitas, inteiras
compondo-me teu estranho repertório de conformidade...

E, quem sabe, o mais excitante segredo dessa paixão 
seja sua irresponsável liberdade de oscilar
entre o sofisticado e o primitivo.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Fim de semana

Corre teu risco de mim
me faz de fim de semana
onde no quarto - tua cama
é meu único lugar pra dançar.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Um ceticismo

A loucura é um barco flutuando no abismo
talvez um ceticismo aos que se dizem normais
é sombra de luz refratada desgastando labirintos
ao ninho limitada - pássaro ancorado à beira do caos.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

O que me assusta

Nem tanto me entristece
a decepção que me causam
quando é certa, é justa
no meio em que respiram...

O que me assusta
e quase me trava um poema
é relevar a coragem
à margem desse decepcionar

que é sem esforços
sem remorsos
sem horror de si mesmo.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Pretexto

Deixa o tempo passar
pelas páginas, pelas asas
passarinho a buscar

deixa o vento soprar
de mansinho, teu ninho? 
onde o acaso levar...

tempo é rima, é contexto

pretexto pra nunca ficar.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Remix

As horas batem lá fora
e aqui dentro é remix
é difusão de desejos
lampejo da estação
se faz calor, é verão!
mas o rádio não aquece
tá frio por dentro
em sintonia com o relógio
fora do meu tempo
então escrevo um soneto
noir - eu descrevo
um lamento - sonar
na distância, quem sabe 
se pode chegar a você?

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Na curva

Talvez a felicidade more na curva em teus lábios
que apesar de constantemente calados
me escrevem um livro ao sorrir.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Alguns erros

Alguns erros jamais esquecemos

tornam-se fila de banco
compras em shopping lotado
cheiro de asfalto molhado
noites nubladas sem lua
música contemporânea de rua
e também músicas clássicas...

Alguns erros ainda nos seguem

na plataforma do metrô
no sobe e desce do elevador
debaixo do breve edredom 
no tom arranhado do vinil
no aquém da puta que pariu!
no avesso de lúgubres pálpebras.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Luz negra

Melhor que eu conheça só a noite
quando o dia é ausência de fantasia
é desprezo de tendências românticas...

A noite é luz negra que acende a lua
e por acendê-la é que se torna única
obstinada de mistérios e porvir...

O que a noite traz não se define
e se exaspera, se adivinha e se previne
da difícil arte de fazer amor sem se envolver.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Outras

Algumas pessoas entram na nossa vida e são ciladas
são armadilhas cravadas ao chão para nos deformar.
Outras, no entanto, trazem com elas o calor do verão
as flores perfumadas da estação pra nos fazer sonhar.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Nova ascendência

Embora exista uma segunda
que a primeira noite seja a única
e que seu efeito dure intrinsecamente...

Pra que seja uma nova ascendência 
à curva abissal do meu sorriso
e seja as quatro fases da lua 
mudando os versos da minha poesia
quando sei que o poeta é a sombra 
e o poema é o dia.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

O que me reflete

Fujo do espelho que me reflete 
nos olhos de outra pessoa 
a fim de encorajar meus medos
enfraquecer meus mistérios
alardear meus segredos
pelos quatro cantos do Tudo
que ainda resta em mim
e que eu tanto resguardo
tanto refaço quando desestruturo
é meu futuro exposto às multidões
minhas mentiras, minha entrega
minha espera, minhas suposições.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Tempo de um poema

Se concebível
é imensurável o tempo de um poema. 
A poesia é feito árvore 
cuja história respira impregnada de versos por suas folhas
mas qual poeta ousa aferir essa retórica? 
O vento destina a trajetória em quatro estações 
- mesmo resistente à intempérie
o seu decurso pode ser longo ou curto
árduo ou pleno de líricos atributos
perfumado de flores ou de fungos.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Feita de silêncios

Melhor que eu seja feita de silêncios...
Que meus sentimentos se guardem quietos
na alma, no corpo ou numa taça de vinho tinto
sem que a cor de sangue seja espírito às palavras.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Metal aquecido

O poeta jamais se desperdiça em poemas
quando cada verso é parte de seu expandir
um metal aquecido a resistir às intempéries.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Alguns acasos

Alguns acasos casam bem com insatisfação
promovem mudanças repentinas - climas
foi assim que adquiri certas ansiedades
que só encontram saciedade em você.

Talvez eu tenha sobrevivido até agora
de olhos abertos e pés cravados ao chão
isso não foi bom - dada a liberdade do agora
onde alço voos mais cegos, ousados, irresistíveis.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Tênue

É tênue, a linha que me separa da realidade
me confronte com a verdade e eu retorno
eu me perco novamente entre meu vale
de solidão predestinada e de relento
de um pseudônimo-complemento
do que já fui, sou e ainda serei.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Poema de amor

Ainda vou te escrever
um poema de amor.
Uma música-momento
meu sentimento em flor
a perfumar teu jardim
a desenhar outro fim
para um doce começo...
Novo caminho, novo porto
bossa nova - barco-conforto
aos meus desejos de sonho
de carinhos e beijos teus.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Devo ser

Devo ser para ele
como a poesia é pra mim
circunflexa circunstância
concavo-desconexa
do correto inviável
- afável indiscreto.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Jeito lento

Gosto do jeito lento
como agora as coisas caminham
é quase um arrastar de pernas
de passos tropeçados nos próprios sapatos
o que redobra minha atenção
sem deixar de ser trilha divertida

logo eu que seguia tão sozinha e retraída
em velhas canções, pétalas secas dentro de um livro
dentro de um infinito de saudades e observações...

hoje em meu rosto
um reticente sorriso faz-se aberto
faz-se brilho de estrelas e luar - desfaz abismos
pra fugir das sombras e trazer lirismo
aos meus dias, entre meus dedos, à superfície
do meu romântico e desajeitado coração.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

No meio

Tanta gente esquisita ao meu redor
e no meio eu me acho a mais esquisita
talvez porque minha febre seja um livro 
de páginas viradas e minhas pálpebras
asas de pombo em voo baixo
um panorama rasteiro
mas verdadeiro demais pra ser errado
porque eu não ando calçando outros sapatos
que não são meus, são só emprestados
e não sou de cuspir no prato em que como
eu não tenho esse hábito
e não vivo de espelhos - não foi esse o trato
o combinado foi vir quase ao acaso
pra testar meus limites, meu descaso
por tudo que ao todo parece suportável.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Doce manhã

Ah! Que gloriosa e especial manhã que jamais tive antes 
de conhecer o paraíso - eu que não acreditava nele 
e que até cruzar suas portas, era apenas como um andarilho 
sem canto, sem cor, sem rumo ou destino... Sem perspectiva. 
E nenhum sonho pode ser mais forte que o sol desta manhã, 
que enfrenta nuvens cinzas se fazendo prevalecer em meio a obstáculos, 
controvérsias e cicatrizes... Fonte de felicidade! 
Porque é meu coração ainda aquecido e minh'alma desperta 
que me contam a novidade, a verdade dos meus sentimentos 
que embora eu precise esconder, não me farão lamentar... 
Ah! Que eterna manhã de lembranças perfeitas e abençoadas, 
de doce morada em meu peito - ninho de pássaros, 
olhos fechados, sorrisos alados e aconchego... 
Manhã de cheiros fixados em minha pele, 
em meu lençol - um paiol pronto a incendiar novamente, 
mesmo que o fogo agora esteja longe... Adormecido.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)