ainda parecia sem sentido
as músicas que por vezes batiam
o sol que eventualmente dourava
a pele, os cabelos, as sombras
tinha a leve vergonha de ter sido idiota
inocente, despreparada
mas também tinha o sabor, a inspiração
dos versos que tomaram coragem e sairam
livres, destemidos
certos de que um dia teriam onde pousar
e o pior talvez fosse a indiferença
disfarçada de amizade, de respeito
de alguma preocupação
apesar de tão óbvia
irritando meu coração
ainda que a verdade orbitasse nossos corpos
de destinos diferentes, quase opostos
não fosse o fato de se cruzarem
nos breves espaços entre um corredor e outro
nas escadas, nos intervalos
e o tempo transformando nossos passos
os dele cada vez mais adiante, mais exatos
enquanto os meus travavam no passado
embaraçados, sem vontade de mudar
mas dos dois, quem era o mais solitário?
e o mais sonhador?
penso que tudo cabe numa rima
minha percepção do que nunca existiu aos olhos dele
e do que sempre haverá bem profundo nos meus
Ana Paula B. Coelho
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