A última fronteira

até conhecer Miguel eu não vivia
apenas pensava que vivia
precisei beijar a morte
e senti-la a cada segundo
pra saber quem eu era
pra saber até onde eu iria

Ana Paula B. Coelho

(Inspirado no filme: A Última Fronteira
com Charlize Theron e Javier Bardem)

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Beijo e rima

ainda que menos brilhantes
continuam estrelas
num céu infinito de azul 
infinito de tanto que amamos

quem me olha me pensa completa
como lua e sol, noite e manhã
mas não sabe, não leu em meus versos
que os poemas não contam quem são

toda estrada se molda ao tempo
e no tempo não se vive em vão
e se longe se estendem dois corpos
um terceiro espera o verão

e assim esperei minhas noites
entre tardes de orvalho e de flor
sempre soube que um dia seria
da areia, do mar, do amor

de palavras vivi - beijo e rima
com sorrisos calei meu refrão
entendendo que toda rotina
me afastava do meu coração

infinito de todos que amamos
num céu infinito de azul 
continuamos estrelas traídas
ainda que brilhantes

Ana Paula B. Coelho

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Colateral

Uni verso 
esparso
sideral
colateral

se beija
se morde
se adora
se odeia
se permite
se pondera
se completa
ou some.

Ana Paula B. Coelho

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Eventualmente

Era uma cama feita de esquinas
de pontes
ladeiras e praças

Tinha um boteco 
com bebidas de graça
pra derrubar a coragem 
garganta abaixo

Nela não se dormia lençóis
fronhas, bichinhos
almofadas

Onde a paixão 
eventualmente se encaixa
colcha de retalhos
conta em pedaços sua história.

Ana Paula B. Coelho

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O mais sonhador

ainda parecia sem sentido
as músicas que por vezes batiam
o sol que eventualmente dourava
a pele, os cabelos, as sombras

tinha a leve vergonha de ter sido idiota
inocente, despreparada
mas também tinha o sabor, a inspiração
dos versos que tomaram coragem e sairam
livres, destemidos
certos de que um dia teriam onde pousar

e o pior talvez fosse a indiferença
disfarçada de amizade, de respeito
de alguma preocupação
apesar de tão óbvia
irritando meu coração

ainda que a verdade orbitasse nossos corpos
de destinos diferentes, quase opostos
não fosse o fato de se cruzarem
nos breves espaços entre um corredor e outro
nas escadas, nos intervalos

e o tempo transformando nossos passos
os dele cada vez mais adiante, mais exatos
enquanto os meus travavam no passado
embaraçados, sem vontade de mudar
mas dos dois, quem era o mais solitário?
e o mais sonhador?

penso que tudo cabe numa rima
minha percepção do que nunca existiu aos olhos dele
e do que sempre haverá bem profundo nos meus

Ana Paula B. Coelho

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