Centenas

somos pequenos pedaços
entre versos
entre espaços 
distantes estrelas

somos dilemas
esquinas ladeiras 
descendo recaídas 
virando lágrimas num poema

somos centenas

Ana Paula B. Coelho

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Versando o aço

entrelinhas
entre laços
disfarço
o que foi em vão

(di)versos 
são os espaços
de aço 
o meu coração

Ana Paula B. Coelho

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Solidão abençoada

Descansa solidão, jamais se exaspere 
se tal condição não mais te inspira bons versos
sempre terás um amanhã de tardes e noites diversas

Convide a lua pra tua cama
em quarto crescente a madrugada declama
poemas de amor, de sonhos, de mar em tempestade

Não desperdice tuas lágrimas com saudade
a distância nada mais é que um velho porto sorrindo
salvando lembranças quase naufragadas

Repouse teus olhos no mar - solidão abençoada
que no abissal está tua essência inabalável
embora a superfície insista em resgatá-la.

Ana Paula B. Coelho

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Senryu 3

o verso também foi rima
depois de ser instante
e não foi o bastante

Ana Paula B. Coelho

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Turbinados

e as turbinas se estendem
não só aos aviões
mas ao café, ao cigarro
ao poema que resiste parado
aqui dentro

eu trago 
eu bebo
eu vejo nublando no céu o metal 

cigarro 
café 
avião
turbinados

e o poema aqui dentro parado
me consome

Ana Paula B. Coelho

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Fora do meu tempo

se tivesse chuva
calçadas empoçadas 
e em cada poça
um espelho para os postes
eu caminharia sem parar

porque quando a noite começa
começa também o vazio instigante
que me inspira, mas consome
que faz a realidade pontuar

horas, minutos 
segundos
num relógio fora do meu tempo
num plano infinitamente pequeno

Ana Paula B. Coelho

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