Espaço do coração

As palavras saíram voando
- me escaparam pela boca
meus olhos estavam fechados

Num instante-minuto-intervalo
perderam-se em verso e oração
na ilusão de voraz liberdade...

Mas sem sol e sem céu tão azul
naufragaram no mar da vaidade
e voltaram ao espaço do coração
em silêncio, tremor e saudade.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Penitente silêncio

Tinha nos olhos
sonhos perfeitos
desfeitos ao vento 
- nuvens de algodão

Cerrava nas vozes
penitente silêncio
instigante, secreto
- enredo do coração.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Unção de subsolo

Deixe que o tempo te ensine
o real valor do "pedir perdão"
Bíblia, dor, oração - luz do saber
de ter nas mãos um tolo coração
e dele fazer o que bem entender

Qualquer entrega hoje é domínio
fascínio do eu-sonho-em-ter-você
aqui de volta - unção de subsolo...

Mas deixe que um grito te desperte
na real profundidade dos abismos
o novo estigma, não mais resisto
perder a razão, recuperando-a
por novamente pretender-te.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Cifras nulas

Que a saudade venha
num assovio de vento
me cantar teu nome

canção "repetido lamento"
que teu coração desafinado
não mais consegue traduzir

amor perdido em cifras nulas

silêncio, argumento: partir.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Quadrantes

A solidão daquela noite era alta, fria
e me cobria com o vazio dos teus olhos

Serenos vieram os sonhos resgatar-me o sono
no meu tempo-retrocesso entre quadrantes
entre esperas - quimeras há muito esquecidas.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

Simples prazer

Roubar da lua, a luz
como quem rouba um beijo
ou o queijo de um sanduíche alheio...

Tudo pelo simples prazer de roubar.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)

O descompasso

O meu presente despertou no ontem
após dormir seu pesadelo de lástimas
não gritou por não ter voz na garganta
nem chorou por não mais ter lágrimas

Se o meu futuro se perdeu no nada
foi porque trilhou estradas tão sinuosas
que numa parte do tempestuoso caminho
já não entendia, em par, a caminhada...

E se o passado que existiu só por nós dois
hoje agoniza nesse abismo tempo-espaço
é por persistir revivendo o descompasso
de um coração que muito já amou.

Ana Paula B. Coelho

(Clique na foto para ampliar)